Um espirro anuncia a constipação.
Também sintoma de uma gripe que por vezes se diz comum. Estas constipações e
gripes são aflições nada raras ao longo de todo o ano e a maior parte de nós já
com elas conviveu pelo menos uma vez na história das nossas vidas.
Contrariamente as estas e outras
doenças sazonais, “passageiras” e comuns à maioria dos seres humanos, há um
conjunto de doenças genéticas que acompanham e afectam gravemente a vida dos
seus portadores: as doenças raras. Este ano o Dia Mundial
das Doenças Raras celebra-se a 28 de Fevereiro.
Passou mais de uma década depois
da descodificação do Genoma Humano. O mapeamento completo dos cerca de 20 mil
genes humanos foi apresentado em conferência de imprensa a nível mundial a 14
de Abril de 2003. Um ano antes, foi fundada em Portugal a Associação Nacional
de Deficiências Mentais e Raras - “Raríssimas”,
mais precisamente a 12 de Abril de 2002.
O mapeamento completo do Genoma Humano
tem permitido compreender melhor os mecanismos
moleculares que estão na origem de inúmeras doenças genéticas, muitas delas doenças
raras, para as quais não se vislumbravam quaisquer curas e/ou tratamentos
adequados antes do Projecto do Genoma Humano ter sido completado. Mas há ainda
muito para fazer e compreender em cada ser humano com o seu específico fenótipo
bioquímico.
O desenvolvimento de
uma farmacogenómica dedicada à compreensão da base genética e metabólica das
doenças, só possível depois do mapeamento do genoma e desenvolvimento e
progressiva compreensão do proteoma
e metaboloma humanos, veio desvendar
novos horizontes tecnicamente exequíveis para as doenças raras, para os
metabolismos extremos e externos ao território clássico das ciências
farmacêuticas.
As doenças
raras, também conhecidas por “doenças órfãs”, relegadas para os extremos das
distribuições estatísticas gaussianas de susceptibilidade a doenças e
interacções farmacológicas, ganharam novas e renovadas esperanças: a de ser
possível antecipar o seu diagnóstico (inclusive pré-natal ou mesmo
pré-concepcional) e eventualmente alterar radicalmente a história de vida de
uma pessoa em particular; a de ser possível a compreensão do mecanismo
molecular da doença e assim identificar alvos para o desenvolvimento de promissoras
estratégias farmacológicas; o desenvolvimento de novos fármacos desenhados e
ajustados à especificidade de um indivíduo em particular, eventualmente menos
dispendiosos para todos os agentes envolvidos.
A atenção e os esforços sociais
em relação aos portadores de uma dada doença designada por rara são sinónimos
dos avanços civilizacionais em que a humanidade é substância, em que cada um
tem direito a ter a melhor qualidade de vida com dignidade independente das
suas especificidades e diferenças.
Aqueles que noutras eras não
conseguiriam sobreviver à nascença, têm hoje a possibilidade de partilhar a sua
individualidade com a sociedade de que também fazem parte, e enriquecer, com a
sua raridade, nós todos, comuns mortais.
António
Piedade
Legenda
Figura: A
Progéria tem origem em um único e pequeno defeito no código genético do bebé,
mas tem efeitos terríveis para a vida da criança que geralmente não chega aos
13 anos de idade.
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