Os raios cósmicos
são constituídos por partículas subatómicas que se deslocam através do espaço a
velocidades muito próximas da velocidade da luz. Cerca de 90% deles são protões
e atingem a Terra constantemente.
Foram descobertos
entre 1911 e 1913 pelo físico austríaco Victor Franz Hess por medições efectuadas com contadores
de radiação (contadores geiger) colocados em balões atmosféricos. Hess
verificou que a crescente ionização observada a grandes altitudes era devida à
acção de uma radiação desconhecida provinda do espaço. Chamou a estas
radiações “raios cósmicos” e viria a ganhar o prémio Nobel da Física em 1936
por esta descoberta.
Desde então os
astrofísicos postularam que a origem desta radiação proviria do que resta das
explosões de estrelas no final das suas vidas, ou seja, das remanescentes de supernovas. Contudo, na viagem através das galáxias estas partículas carregadas
dos raios cósmicos sofrem desvios causados pelos campos magnéticos dos astros. Estes
desvios nas trajectórias fazem com que seja praticamente impossível detectar a sua
origem e assim dificultar a sua associação com uma remanescente de supernova específica.
Agora,
foram publicados dois artigos na revista Science que demonstram que as remanescentes de duas supernovas emitiram e aceleram raios cósmicos, resolvendo um mistério
centenário.
Um dos
artigos foi publicado na edição de 15 de Fevereiro da revista Science (Science,2013; 339 (6121): 807) e relata
as observações da remanescente de supernova IC 443 efectuadas pelo Telescópio
Espacial Fermi da NASA.
Supernova IC 443 (Créditos NASA/DOE/Fermi LAT Collaboration, NOAO/AURA/NSF, JPL-Caltech/UCLA)
O outro artigo,
da autoria de uma equipa de astrónomos europeus, foi publicado na edição
avançada online da Science no dia 14 de Fevereiro (Science,2013), e foi o primeiro estudo a utilizar um espetrógrafo de
campo integral, instalado no Very
Large Telescope, no Chile, do Observatório Europeu do Sul, para analisar os
restos da supernova SN 1006.
Supernova SN 1006 (Créditos - Radio: NRAO/AUI/NSF/GBT/VLA/Dyer, Maddalena & Cornwell, X-ray: Chandra X-ray Observatory; NASA/CXC/Rutgers/G. Cassam-Chenaï, J. Hughes et al., Visible light: 0.9-metre Curtis Schmidt optical telescope; NOAO/AURA/NSF/CTIO/Middlebury College/F. Winkler and Digitized Sky Survey.)
Esta supernova brilhante
foi observada no ano de 1006 (d. C.) em vários lugares do hemisfério sul da Terra como
uma nova estrela nos céus muitas vezes mais brilhante do que o planeta Vénus e
podendo mesmo ter rivalizado com a luminosidade da Lua cheia.
Assim, e pela primeira vez, as observações sugerem que a presença de partículas
muito rápidas no gás da remanescente de supernova podem ser as percursoras dos raios
cósmicos.
António Piedade
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