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quinta-feira, 7 de março de 2013

O sal aumenta o risco de doenças autoimunes




Foi descoberta uma relação entre o excesso de sal na alimentação e o aumento de células do sistema imunitário envolvidas em doenças autoimunes como a esclerose múltipla, a diabetes tipo 1, a psoríase, entre outras.

Os sais são essenciais à vida. Mas, como com quase tudo o resto, o excesso deles pode arrastar a vida para a doença e eventual morte. É o que sucede com o excesso do sal de cozinha na nossa alimentação. O cloreto de sódio (símbolo químico NaCl) está presente nos oceanos das nossas descobertas marítimas em cerca de 3,5% da sua composição em peso (ou seja, existem cerca de 35 g num litro de mar). No nosso corpo (um adulto com 60 kg tem cerca de 150 g de NaCl no seu corpo). os iões que o compõem são essenciais para o funcionamento, por exemplo, do sistema nervoso, participando na geração dos impulsos nervosos.

Há sempre sal no nosso pensamento, nos nossos sonhos, nas nossas emoções e afectos. As lágrimas sabem a sal.

Para manter o NaCl que necessitamos no nosso corpo, a Organização Mundial da Saúde indica que devemos ingerir menos de 5 g daquele sal por dia. O consumo de cerca de 2 g de NaCl (presente já em vários alimentos sem que seja necessário mais adições) é considerado saudável).


Cristais de NaCl


Há muito que se sabe que o seu excesso de sal na alimentação é prejudicial à saúde. Desde há pelo menos décadas que o excesso de NaCl está associado a um risco significativamente maior no desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Agora foi descoberto que este mesmo sal está envolvido em determinadas em vias metabólicas, na regulação e maturação de células específicas do nosso sistema imunitário: linfócitos Th17.

Em três artigos (ver aqui, aqui e aqui) publicados no dia 6 de Março na edição online da revista Nature, investigadores das Universidades de Yale, de Harvard, de vários centros hospitalares nos Estados Unidos da América do Norte e na Alemanha, demonstram que a presença em excesso e continuada daquele sal no organismo tem como consequência uma híperestimulação na maturação e activação dos linfócitos Th17.


Imagem de um linfócito T rodeado de glóbulos vermelhos.


Se por um lado estas importantes células do nosso sistema imunitário nos protegem contra microrganismos invasores e causadores de doenças, a sua actividade está também associada a doenças autoimunes (em que células do próprio organismo são por elas “atacadas” e destruídas). Entre estas doenças encontram-se a esclerose múltipla, a diabetes do tipo 1, a doença inflamatória do intestino, alguns tipos de psoríase.

Os investigadores destes estudos identificaram que as pessoas que comem regularmente “fast food” (geralmente contendo quantidades generosas de sal) possuem quantidades significativamente maiores de células Th17 activas. Descobriram ainda que a presença de excesso de sal estimula estas células a produzirem e libertarem substâncias que provocam inflamações (como a interleucina 17).

Estes estudos constituem um forte sinal de alerta para os efeitos tremendamente nocivos entre uma alimentação com excesso de sal e o estado geral de saúde, aumentando significativamente os factores de risco associados com o desenvolvimento ou agravamento doenças autoimunes.

Assim, reduza o sal na sua alimentação. Verá que a sua vida ganhará outro sal!

António Piedade

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Insuficiência de vitamina D pode aumentar os riscos para a Diabetes Tipo 1




Manter níveis adequados de vitamina D antes da idade adulta pode reduzir em 50% o risco de desenvolver diabetes do tipo 1 em adultos.

Este resultado vai ao encontro de estudos anteriores realizados na Finlândia, publicados na prestigiada revista The Lancet em 2001, nos quais se tinha verificado um efeito preventivo de suplementos de vitamina D em crianças para o não desenvolvimento de diabetes tipo 1.

Apesar de serem necessários mais estudos epidemiológicos e bioquímicos, esta nova investigação realça a importância da presença de vitamina D na dieta como forma de prevenir que essa doença autoimune se desenvolva na vida adulta.

O estudo aqui em referência foi publicado na edição online do dia 3 de Fevereiro da revista American Journal of Epidemiology e será publicado na edição impressa de 1 de Março de 2013.

“É surpreendente que uma doença gravíssima, tal como é a da diabetes tipo 1, possa ser prevenida provavelmente só através de uma intervenção simples e segura”, afirmou Kassandra Munger autor principal do estudo e investigador da Harvard School of Public Health.

A diabetes do tipo 1 é caracterizada pela insuficiente (ou mesmo inexistente) produção de insulina pelo pâncreas, devido à destruição das células (mais exactamente as células beta dos ilhéus de Langerhans pancreáticos) que a produzem, pelo sistema imunitário do próprio (destruição autoimune).




Os doentes de diabetes tipo 1 são, assim, insulino-dependentes. Ou seja, para poderem manter níveis fisiológicos normais de glicose no sangue têm de receber insulina através de injecções cutâneas. Apesar de se poder desenvolver em qualquer idade, a diabetes tipo 1 é mais comum em crianças, adolescentes e 
adultos jovens.

Já se sabia de outros estudos que a vitamina D influencia a produção de insulina, mas estas novas investigações vêm indicar que esta vitamina pode ter um papel de protecção contra o “ataque” autoimune. Aliás, a deficiência nos níveis de vitamina D no corpo têm sido associada a um risco aumentado para o desenvolvimento de várias doenças autoimunes.



A vitamina D, ou calciferol, é necessária para a normal absorção de cálcio pelas células após exposição solar, e é essencial para o desenvolvimento normal dos ossos e dentes. É uma vitamina lipossolúvel (solúvel em gorduras) obtida a partir do colesterol que é o seu precursor metabólico.


António Piedade



Referência do artigo:
"Preclinical Serum 25-Hydroxyvitamin D Levels and Risk of Type 1 Diabetes in a Cohort of U.S. Military Personnel," Kassandra L. Munger, Lynn I. Levin, Jennifer Massa, Ronald Horst, Tihamer Orban, and Alberto Ascherio,American Journal of Epidemiology: online February 3, 2013; March 1, 2013 print edition.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

GIP: No Longer the Neglected Incretin Twin?

"In the design of therapeutics to treat type 2 diabetes, researchers have exploited the observation that oral ingestion of nutrients leads to the secretion of glucose homeostasis–regulating incretin hormones (for example, glucagon-like-peptide–1) from the gut. Here, we discuss two recent papers that suggest that the “other” incretin hormone, gastric inhibitory polypeptide (GIP), also is important in the regulation of glucose homeostasis. These findings warrant further studies to unravel the mechanism of action of GIP in β-cells of the endocrine pancreas and to evaluate the possibility of designing novel therapeutics that target both incretin hormones."


R. N. Kulkarni, GIP: No longer the neglected incretin twin? Sci. Transl. Med. 2, 49ps47 (2010).
http://stm.sciencemag.org/content/2/49/49ps47.abstract

HORMONAS INCRETINAS E DIABETES


A diabetes mellitus tipo 2, vulgarmente designada só por diabetes, é uma doença cardiometabólica complexa, caracterizada por um aumento de glicose (açúcar) no sangue, ou hiperglicemia, crónica. A glicose é o principal “combustível” para as células de todo o corpo. A sua concentração no sangue aumenta após uma refeição, devido à digestão dos alimentos, ou quando precisamos de um reforço de combustível celular, por exemplo durante esforço físico intenso ou durante uma situação de perigo como resposta normal do organismo para podermos agir, lutar ou fugir. A sua concentração no sangue diminui nos intervalos entre as refeições ou nos períodos de jejum prolongado. Mas quando a sua concentração no sangue está continuamente acima do normal, a glicose desencadeia processos patológicos, como sejam o aumento do risco cardiovascular, insuficiência renal, problemas visuais, entre outros.

A regulação fisiológica da glicemia é um processo complexo que não cabe explicar nesta crónica. Contudo, o papel da hormona insulina é indispensável. Produzida por células especializadas no pâncreas, a insulina funciona como uma chave possibilitando que a glicose seja assimilada pelas células. Na falta de insulina, ou se o receptor dela (fechadura) estiver ausente ou não funcional, a glicose não entra para as células permanecendo na corrente sanguínea. Por isso, a insulina foi e ainda é a principal personagem farmacêutica no tratamento da diabetes.

Recentemente, descobriu-se que a ocorrência de hormonas segregadas por células especializadas nos intestinos, conhecidas desde 1902 e rebaptizadas por La Barre, em 1932, como hormonas incretinas [1], desempenham um papel importante no desenvolvimento e progressão da diabetes [2].

Após a ingestão de alimentos, principalmente se forem ricos em hidratos de carbono (como os cereais), verifica-se, durante o trânsito intestinal e absorção dos nutrientes, a secreção para o sangue de duas hormonas incretinas: o peptídeo insulinotrópico glicose-dependente ou GIP (do inglêsgastric inhibitory peptide), e o peptídeo tipo glucagina-1 ou GLP-1 (do inglês glucagon-like peptide-1).

















Estas hormonas incretinas actuam sobre as células dos ilhéus de Langerhans pancreáticos, “avisando-as” de que o organismo recebeu glicose e que, por isso, é preciso segregar insulina para que aquela possa ser assimilada a nível celular.

Sabemos hoje que estas hormonas actuam de forma glicose-dependente, estimulando a secreção de insulina pelas células beta, e inibindo a secreção de glucagina (outra hormona relacionada com o controlo da glicemia) pelas células alfa, dos ilhéus de Langerhans pancreáticos [2,3].

Estes mensageiros bioquímicos, qual correio expresso, são eliminados da circulação ao fim de cerca dois minutos, por uma (ou um) enzima a eles especifica(o): a dipeptidil peptidase-4, ou DPP-4 [4]. Ou seja, os intestinos, em resposta à absorção de glicose, comunicam ao pâncreas, através das incretinas, a necessidade de mais insulina mas não durante muito tempo. E porquê? Porque uma produção continuada de insulina faria com que a concentração de glicose no sangue caísse para valores também perigosos: é sempre preciso um mínimo de glicose para o normal e continuado funcionamento das células. Sem glicose o organismo “desliga-se”.

Contudo, em situação patológica como a diabetes em que se verifica uma hiperglicemia continuada, seria conveniente manter as incretinas a circular durante mais tempo, de forma a estimular a secreção pancreática de insulina e diminuir a de glucagina. Isto seria naturalmente possível se a acção proteolítica da DPP-4 fosse inibida durante um período de tempo conveniente.

Este tipo de racionalização tem ocasionado, nos últimos anos, uma atenção crescente da indústria farmacêutica sobre as incretinas e levado ao desenvolvimento de novas farmacoterapias, de toma oral, que visam inibir a DPP-4 e assim manter as incretinas durante mais tempo em circulação sanguínea. Estudos clínicos recentes mostram, de facto, que esta estratégia terapêutica permite controlar a glicemia sem algumas das inconveniências da terapêutica baseada na injecção periódica de insulina e pode devolver mais qualidade de vida aos doentes diabéticos [5].

















Referências:















(1) E. Zunz and J. La Barre, Contributions a l'etude des variations physiologiques de la secretion interne du pancreas. Relations entre les secretions externe et interne du pancreas, Arch. Int. Physiol. Biochim., 31 (1929) 20-44.







(2) J. Girard, The incretins: From the concept to their use in the treatment of type 2 diabetes. Part A: Incretins: Concept and physiological functions,Diabetes & Metabolism, 34 (2008) 550-559.Your browser may not support display of this image. doi:10.1016/j.diabet.2008.09.001







(3) R. Burcelin, M. Serino and C. Cabou, A role for the gut-to-brain GLP-1-dependent axis in the control of metabolism, Curr. Op. in Pharmacology, 9 (2009) 744-752. doi:10.1016/j.coph.2009.09.003







(4) D.J. Drucker and M.A. Nauck, The incretin system: glucagon-like peptide-1 receptor agonists and dipeptidyl peptidase-4 inhibitors in type 2 diabetes, Lancet, 368 (2006) 1696-1705. doi:10.1016/S0140-6736(06)69705-5







(5) L.L. Nielson, Incretin mimetics and DPP-IV inihibitors for the treatment of type 2 diabetes, Drug Discovery Today, Reviews, 10 (2005) 703–710 doi:10.1016/S1359-6446(05)03460-4

















António Piedade, publicado primeiro no semanário "O Despertar" e republicado aqui