sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

OUTRAS TERRAS NO UNIVERSO



Quando é que a humanidade se deu conta da existência de planetas? Quando é que a Terra “deixou” de ser o centro do Universo? Quem foi que imaginou pela primeira vez a existência de outros mundos nas estrelas? Como é que sabemos de que é que as estrelas são feitas e a que distância estão de nós? Como e quando foi descoberto o primeiro planeta (exoplaneta) fora do nosso sistema solar? Como é que os astrofísicos descobrem planetas a orbitar as estrelas que vemos no céu? Como é que os cientistas procuram vida nesses exoplanetas distantes?

As respostas a estas e outras perguntas encontram-se no livro “Outras Terras no Universo – uma história da descoberta de novos planetas”, publicado pela editora Gradiva em Novembro de 2012, na colecção Ciência Aberta, com o número 197.


Este livro, que conta a história fascinante da descoberta de planetas, começando com os do nosso próprio sistema solar, está escrito na primeira pessoa do singular, mas também na primeira do plural. Na primeira pessoa, pois um dos autores, o português Nuno Cardoso Santos, investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e do Observatório Europeu do Sul, um dos reputados astrofísicos mundiais que participam na descoberta de novos planetas, assume a sua individualidade narrativa ao nos apresentar a história e evolução da descoberta dos exoplanetas, numa escrita debruada com suspense e algum mistério, o que nos prende à leitura só por si já cativante.

A narrativa decorre também na primeira pessoa do plural uma vez que os cientistas Luís Tirapicos e Nuno Crato, entusiastas da astronomia e da excelência na divulgação de ciência, compartilham a co-autoria do texto final.

A narrativa guia-nos cronologicamente desde o pensamento grego atomista, até ao espanto e fascínio da descoberta de exoplanetas, mas também da dificuldade da sua investigação. Descreve-nos, várias vezes ao longo do livro, aspectos do método experimental científico, “nuances” das personalidades dos cientistas que modulam as relações entre eles e a apresentação das suas descobertas, os avanços e recuos próprios do conhecimento científico assente em resultados que são alvo do escrutínio e verificação rigorosa pela comunidade científica internacional, resultados dependentes da tecnologia existente numa dada altura e de como os avanços desta permitem descobrir o que antes não era possível, ver o que antes se julgava aí não estar.

O livro é de leitura muito acessível e a informação está apresentada de uma forma clara e rigorosa. Ao longo de 217 páginas agrupadas em 9 capítulos (a saber: A pluralidade dos mundos habitados; A descoberta do sistema solar; Em busca de outros mundos: da teoria às primeiras tentativas; Afinal existem outros planetas?; Outros “sistemas solares”; Trânsitos: um novo olhar sobre os exoplanetas; À procura de outras Terras; Afinal, o que é um planeta?; A possibilidade de vida extraterrestre) o leitor aprende a olhar para o céu de uma forma mais conhecedora, uma vez que esta boa obra de divulgação científica nos informa sobre o conhecimento astrofísico mais recente. A sua leitura, coadjuvada por referências bibliográficas pertinentes, permite-nos compreender melhor o universo de que fazemos parte. Várias e oportunas notas de roda pé dissipam-nos dúvidas, esclarecem ainda mais o texto.

Depois de o lermos, vemos, com a lente do nosso pensamento, as estrelas e os exoplanetas distantes mais próximos de nós, mergulhamos nas atmosferas destes e tacteamos as suas superfícies. É um livro que apela à nossa imaginação sobre a natureza das estrelas mas com os pés bem assentes no chão do conhecimento científico actual e possível.

Os autores sublinham-nos particularidades intrínsecas ao método científico. Como seja a de gerar modelos descritivos e preditivos do universo os quais estão sempre a ser revistos, ajustados ou mesmo rejeitados, perante as evidências de dados novos. É assim que o conhecimento científico avança ajustando-se gradualmente à informação factual que num dado momento possuímos do universo. Os autores também realçam a coragem humilde que existe no reconhecimento do erro, mas também o esforço, a persistência e o rigor presentes no registo de dados tecnicamente de difícil obtenção.

O livro constitui, por fim, um relato actualizado sobre o estado da arte nesta área do conhecimento científico, uma vez que refere descobertas registadas mesmo no final da sua escrita (Agosto de 2012) e investigações em curso no corrente e próximos anos. 

É assim um excelente guia para que possamos descodificar melhor as notícias que nos chegam e sempre chegarão sobre as descobertas que fazemos das estrelas que contemplamos há muitos milhares de anos.

É ainda um livro muito útil e oportuno que ajuda a abordar a temática da descoberta de exoplanetas em ambiente de sala de aula ou de biblioteca escolar.

António Piedade

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